Monday, November 27, 2006

...



Se eu olhei para ti assim,
foi porque soube que o tempo era limitado demais.

E poucas nevadas,
poucas luas,
poucas marés,
que foram minhas, foram para te mostrar uma coisa:
o meu olhar, encontrou um só destino,
o teu olhar.

Agora que já morri, apenas uma coisa me sobreviveu:
o teu olhar.
O tempo foi efémero e uma vida não chegou para ser o teu olhar.
Por isso ainda hoje o tenho em meu sabor.
Ainda hoje,
fragmentada nos pedaços da terra escura,
durmo no contorno do teu olho.
E cada grão de areia, picoteia a tua iris.
Na colmeia das abelhas,
saboreio o mel do interior do teu olho.
Vivo a escuridão constante da tua pupila.
No trovão relampejado, estilhaço-me como o brilho do teu olhar.
E aqui no topo, sempre que vejo a terra redonda,
só consigo ver o circulo do teu olho.
Ainda hoje eu sei que, um dia, serei o teu olhar.

26/11/06
Fotografia de André Ventura...=)
lol

2 Comments:

Blogger miguel gullander said...

"Escreve, escreve, escreve furiosamente, sem parar, sem olhar para trás — e esta devia ser a minha única voz, o meu único querer: escrever até ao fim da estrada, tracejando o alcatrão de palavras de tristeza e paixão, de palavras de Deus, e eu quero que a minha escrita seja um mapa da “minha” busca de Deus — sendo que, o maior paradoxo de tudo isso, todo este drama, nada é mais do que a totalidade, Deus, procurando-se a Si mesmo, através de mim como instrumento — e eu não o sei — e é isso o que eu quero: tracejar a infinita língua de picante, malagueta sobre as papilas, palavras de texturas ásperas, e outras feitas de vento, como pegar na primeira tempestade e ser feliz, palavras de óleo fervido, a boca enviada como uma espada — e ser o mágico da partida. Da viagem, até ao fim da estrada, a própria estrada sendo o destino, o objectivo, o Graal. A cada momento já lá estamos, já chegamos a casa, pois a estrada é tudo. A outra margem, sob os nossos pés, nesta mesma estrada, diz-me a menina muda.
E cada momento a escrever é sagrado, pois escrevo e sinto, e sei, que se isto não é o caminho para me fazer real — como a onda azul de tubarões, o pó vivo da estrela, a dor de morder a língua de paixão — então nada é verdadeiro, e neste sonho escolho, pelo menos, trocar um olhar contigo, rapariga." Excerto de "Perdido de Volta" de Miguel Gullander

1:53 PM  
Blogger Fresta said...

Um dia seremos o olhar de cada. E o trovão relampejado não passará de uma suave brisa marítima. Guarda meu olha pois em mim só vejo o teu! ;)

9:17 AM  

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