Tuesday, October 09, 2007

Dois cenários, duas crianças.

Um

Uma casa escura,
Quatro paredes de madeira.
Pedaços pretos mancham o chão,
Ainda cheira a queimado.
O incêndio foi fraco, mas era recente.
Pequenina, encostada aos ferros que sobraram da cama,
chora baixinho. Sozinha em casa.
A luz era fraca, a terra já giráva longe do Sol.
O último movimento que a luz diurna captou,
iluminou vagamente o seu único brinquedo.
Ela fixou-o e gatinhou, fungando,
Até se abraçar à boneca de porcelana.
Cortou-se no braçinho sujo.
A mão da boneca estava partida. Desfeita!
Estoirou no fogo!
O que sobrava limpo e inteiro, era o sorriso da boneca.
Tudo o que a aconchegou e manteve calma.
Foi o sorriso.

Dois

Pequenina, e que postura tão correcta!
Era assim que assentava no sofá
forrado de paninho cor-de-rosa.
O penteado está perfeito:
Uma fitinha branca, contrasta o cabelo escuro, liso.
Prateleiras enchem-se de dezenas de bonecas.
Bonecas de plástico, de vidro e porcelana.
Paredes altas, brancas.
O cheiro de lavanda e a limpeza dos móveis.
A claridade atravessa os cortinados
Longos, macios... tornando a luz harmoniosa.
Os seus olhos, focaram os vestidos bordados,
E os sorrisos imóveis naquela porcelana toda.
“Não quero mais... quero vida nos sorrisos”
A grandeza daquele quarto era um abandono.
A criança lançou ao chão todas as bonecas.
Vidros partidos, e ainda pisados pelas sandálias duras,
Que cobrem um pézinho... tão delicado.
Rita/2007

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