Monday, November 27, 2006

...



Se eu olhei para ti assim,
foi porque soube que o tempo era limitado demais.

E poucas nevadas,
poucas luas,
poucas marés,
que foram minhas, foram para te mostrar uma coisa:
o meu olhar, encontrou um só destino,
o teu olhar.

Agora que já morri, apenas uma coisa me sobreviveu:
o teu olhar.
O tempo foi efémero e uma vida não chegou para ser o teu olhar.
Por isso ainda hoje o tenho em meu sabor.
Ainda hoje,
fragmentada nos pedaços da terra escura,
durmo no contorno do teu olho.
E cada grão de areia, picoteia a tua iris.
Na colmeia das abelhas,
saboreio o mel do interior do teu olho.
Vivo a escuridão constante da tua pupila.
No trovão relampejado, estilhaço-me como o brilho do teu olhar.
E aqui no topo, sempre que vejo a terra redonda,
só consigo ver o circulo do teu olho.
Ainda hoje eu sei que, um dia, serei o teu olhar.

26/11/06
Fotografia de André Ventura...=)
lol

Wednesday, November 08, 2006

Embala-me

Embala-me

Embala-me num naufrágio em teus braços.
Mergulhamos o nosso tempo
Nesta infinita planície,
Neste contorno montanhoso
Que esconde o nosso destino.

Olhamos o céu...
Aquela nuvem tão perfeita
E o desenho dos troncos,
Que contornam a fronteira do horizonte.

O abrir disperso de ramificações,
como o espreitar das nossas mãos
Perdidas na vida da árvore.

Estamos ao alcançe das folhas
De tudo aquilo que sai do fundo da terra.
Como nós.
E que em lento passo.
Se estende pela vida afora,
Frágil como nós.

Pinga uma gota do céu.
Infiltra-se na terra.
Na árvore.
Onde espreitam as nossas mãos.

Rita Couto/2006